Sabe aquela frase “a primeira impressão é a que fica”? Esqueça-a neste momento. Quem vê pela primeira vez o Pablo Arruti no meio da pista com milhares de fitas do Senhor do Bonfim amarradas pelo corpo, com boca, dentes e língua azul, com o corpo inteiro colorido e fazendo suas caras e bocas mal imagina a sensação incrível que é a troca de palavras com ele.
Com uma cabeça extremamente aberta, as ideias parecem brotar a todo o momento e é exatamente uma dessas ideias que vem deixando festas, festivais e vários outros lugares mais coloridos. A inspiração para a criação do Zim veio do Holi, um festival indiano e foi concretizada no Terra em Transe Festival (2012/13). Após a primeira aparição o Zim começou a chamar atenção de outros núcleos e também empresas que viram neste pó colorido uma maneira de maior integração com o seu público.
Abaixo você confere um bate papo que tive com o Pablo sobre o surgimento e os planos para o Zim.
O que é o Zim?
ZIM é uma tinta em pó biodegradável e que não mancha permanentemente a pele ou as roupas. Portanto, o Zim é uma ferramenta para muitas coisas: é cor, integração, brincadeira, criatividade… Hoje em dia ele é o principal produto de uma empresa chamada ZIM Color.
Como e quando surgiu a ideia?
A ideia veio nascendo nos últimos anos, mas brotou mesmo em outubro de 2012. Desde que eu vi fotos do Holi (o festival indiano) pela primeira vez na internet, fiquei abobalhado. Não lembro bem o ano, mas deve ter sido 2009 ou 2010. Em 2012 surgiu a vontade de fazer performances em festas e o pó colorido parecia uma ferramenta maravilhosa para meu estilo de performance, que se baseia, dentre outras coisas, na intenção de contagio.
Como eu não tinha como comprar, inventei um jeito de fazer. Em uma parceria com a Soononmoon para o Terra em Transe Festival, produzi 200 quilos de ZIM e apresentei uma performance, junto com a Mariana Esteves e uma galera que se animou e se juntou, no dia primeiro de janeiro de 2013. Digamos que a idéia não surgiu, ela vem se construindo, desenvolvendo junto comigo e meus parceiros. O que surgiu foi o material, ZIM, já que antes não havia o mesmo no mercado.
O Zim já esteve presente em festivais como o Terra em Transe, Universo Paralello, festas como Kumbha, Floresta infectada como você vê a ligação dele com a cena trance?
O ZIM nasceu dentro do meu desenvolvimento como performer nas festas de psytrance. Ele faz parte de um conjunto de elementos que eu utilizo nas minhas performances, como a fita do senhor do Bonfim. O psytrance é para mim música para abrir a cabeça, para mover o corpo de uma forma diferente do habitual, para acalmar o coração e reparti-lo. As festas de psytrance, pela sua decoração, localização, arte e público, são locais sagrados de tão profanos. Eu encontrei uma forma de meditar ativamente e em conjunto dentro do mainfloor, é assim que eu entendo o que eu faço. E entendo que o ZIM brotou dessa meditação criativa, em movimento e transformação constante, que se prolifera através do contagio/contato e se comporta de maneira irreverente com relação aos padrões de comportamento socialmente aceitos.
Uma das melhores sensações que eu já vivi foi jogar uma bandeja de ZIM numa multidão de psytrancers em êxtase, bem no momento do drop. Eu me sinto completamente entregue, exposto, enlouquecido, sinto a energia que as pessoas me mandam tremer minhas entranhas. É muito louco, fantástico. Eu agradeço a você Rodrigo, por ter registrado de maneira tão magnífica as primeiras vezes que eu fiz isso na minha vida.
Vamos falar um pouco do criador, é bem comum te encontrar na pista com a boca azul, corpo colorido, fitas do Senhor do Bonfim pelo corpo e com caras e boca, o que você toma?
Para ficar assim eu metabolizo felicidade. A partir de um exercício diário de liberdade e criatividade, meu corpo acumula altas doses de felicidade, que eu uso no momento da festa.
Como você vê o nosso cenário eletrônico atualmente?
Eu não sou daqueles que gosta de falar de antigamente, tipo “a cena perdeu a essência” ou coisas do estilo. Comecei a frequentar as festas em 2004, mudei muito de lá pra cá, não sei como a cena mudou, para ser sincero.
Além disso, não conheço o cenário eletrônico em geral, eu só frequento festas de psytrance e subgêneros.
Falar da cena como um todo é muito difícil. Eu defendo uma maior criatividade e planejamento mais detalhista na hora de projetar um evento. Criatividade para aumentar a variedade de expressões artísticas na pista, ou seja, valorização dos fotógrafos, video-makers, performers, decoradores, artistas plásticos. Acho que os produtores são um pouco obcecados com line-up sendo que a festa deve ser uma orgia artístico-sensorial-emotiva, não apenas um banquete para os ouvidos. Planejamento para que o básico (Banheiro, limpeza, segurança, alimentação, infraestrutura de luz e som) seja sempre quase perfeito, para que o cálculo de custos seja mais preciso e a logística mais eficaz. Um evento de psytrance é um empreendimento que deve ser realizado da maneira mais profissional possível, para que tenha sucesso e futuro. Vender ingressos de um evento anunciado com certas características e entregar um evento sem estas características é um fracasso e uma falta de responsabilidade. Se o evento não pode garantir as coisas, não prometa, simples.
Quais os próximos planos com o Zim?
Se você se refere à empresa, nós pretendemos produzir dezenas de toneladas nos próximos meses para atender a demanda gerada pelos festivais Holi que acontecem no Brasil. A ideia é enriquecer o conceito com uma estratégia de marketing baseada no estímulo a produção artística alternativa.
Se você se refere ao Zim dentro da cena trance brasileira, pretendo colorir os principais festivais do país. Além disso, a idéia é utilizar o Zim de outras formas, mas prefiro não dizer exatamente como, espero ser capaz de surpreender.
Qual o lugar que você mais gostaria de colorir?
A lama do Ozora com a galera dançando loucamente, acho que esteticamente seria orgástico. O mainfloor do Boom também é tentador demais, sou fanático por aquele lugar.
Saiba mais sobre o Zim:
Web: zimcolor.com
Facebook: facebook.com/zimcolor