Entrevista: VJ Picles

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Já se passou o tempo de que VJ era aquele(a) apresentador(a) dos programas da MTV, hoje em dia eles são responsáveis por elevar a qualidade de uma festa. Quem nunca se “desligou”da música, do lugar e literalmente viajou nas imagens projetada naquela pano branco da PVT, nas TVs dos clubs ou nos enormes e modernos painéis de LED.

Na última edição da curitibana Progressive, realizada no dia 15/07, entre lendas internacionais como Infected Mushroom, Pixel, Eyal Yankovich, um dos principais destaques foi o mineiro Péricles Vitor ou, simplesmente, VJ Picles.

Após a imersão sofrida por mim durante algumas projeções decidi bater um papo com o artista e tentar entender um pouco mais deste mundo do audiovisual que vem se tornando cada vez mais essencial nas nossas festas e festivais.

Muitas pessoas quando pensam em sair da pista, pensam logo em seguir a carreira de DJ, por que escolheu o visual?
Sempre fui ligado a imagens, quando era adolescente via clipes na MTV e ficava intrigado com os efeitos visuais. Nessa mesma época comecei estudar vídeo e animação por conta própria. Lembro-me fazer pequenas animações usando o flash (antiga macromedia), eu realmente gostava disso. Em 2005 aos 17 anos consegui um emprego em um estúdio fotográfico. Nesse estúdio aprendi muito sobre fotografia, photoshop, filmagem e edição de vídeo.

Um ano depois fui a uma festa rave onde vi pela primeira vez o trabalho de um VJ, lembro que fiquei fascinado. Não deu outra esperei o VJ descer do palco e fui até ele. Fiz um monte de perguntas e esse VJ vendo meu interesse me ajudou nos primeiros passos. Como já tinha conhecimento na área foi bem fácil pra eu entender como a coisa toda funcionava. Não lembro ao certo da minha primeira festa, porém foi nessa época que comecei a me apresentar em pequenas festas no interior de Minas Gerais, perto de minha cidade natal.

Qual a importância de um VJ para um festa/festival?
Creio que a importância está diretamente ligada a estrutura disponível para apresentação do trabalho. Em um evento de grande porte com muitos metros de LED ou projetores potentes o VJ terá maior importância, e também terá seu trabalho notado por mais gente. Isso também ocorre no contrário, uma festa gigante, com um mega som e um painelzinho atrás do DJ o VJ vira quase um nada, grande parte do público nem percebe seu trabalho.

E sempre foi assim?
O cenário vem melhorando muito nos últimos anos, parte disso está ligada a novas tecnologias, LED com alta resolução e baixo custo, projetores mais potentes a um preço acessível para o produtor da festa. Já fiz muita festa onde tudo que tinha eram 2 ou 3 TVS atrás do dj. O público tinha que se esforçar para ver os visuais.

Vamos aproveitar para vender “o peixe”, você acha que as festas deveriam investir mais nessa área visual?
Acredito que sim, que é esse o caminho. Basta olhar o que está acontecendo nas festas e festivais fora do país. Cada vez mais vemos projeções e palcos de tirar o fôlego. O que torna o evento uma experiência mais imersiva para o público.

Como está, atualmente, o cenário audiovisual na música eletrônica?
Atualmente temos grandes projetos investindo pesado no audiovisual. Como: Skrillex, Excision — Steve Aoki — Zedd — Boris Brejcha, entre outros. Um VJ pode ser muito bom, mas quando se produz um live audiovisual, criando conteúdo específico para cada track o resultado alcança outros níveis de imersão.

Os exemplos que você citou acima são todos internacionais, por que no mercado nacional não vemos tanta essa sincronia dos DJs com os VJs?
Bem, fora do país a realidade é outra, tanto em termos de equipamento nos eventos como recursos financeiros dos lives citados acima. Outro ponto importante é que temos artistas visuais brasileiros trabalhando na produção dos lives gringos. O “Fucking Serious” do Boris Brejcha foi produzido pelo Vj Robson de São Paulo e a Urutau Visual (coletivo que faço parte) está produzindo um visual exclusivo para o Rinkadink.

Falando em imersão você acredita que um audiovisual bem produzido pode ajudar o público a sentir mais a música e a festa?
Sim, sem sombra de dúvidas um audiovisual de qualidade torna a experiência muito mais imersiva para o espectador. Em 2015 fizemos uma apresentação com o artista 4i20. Produzimos um motion graphics com as letras das músicas. Parte o público parou para filmar o telão na hora do vocal, foi uma experiência bem interessante que me fez olhar com mais carinho para esse tipo de trabalho.

Atualmente vemos vários VJs se destacando no cenário eletrônico como Toshiro, Daniel Paz, Ortega e até o fotógrafo Murilo Ganesh. Quais são suas referências nesse meio?
Admiro muito o trabalho desses VJs, são de alto nível e estão na cena LowBPM a muito anos. Porém eu pessoalmente admiro o trabalho do VJ Vacão e do austríaco TAS. Creio que esses caras estão abrindo caminho no trance. Vacão pra mim é referência máxima em visual trance no Brasil e o TAS referência mundial, ele apresenta somente conteúdo próprio e de altíssimo nível, o que foi aquele mapping no Modem Festival, o cara é muito foda. Ambos se dedicam a cena trance na maior parte de seus trabalhos. Eles são referência para mim que trabalho nesta cena.

https://vimeo.com/42168139

Na edição 31 da Progressive, que aconteceu no último final de semana, em alguns momentos podemos dizer que você “roubou a cena”. Qual a sensação quando isso acontece?
É muito gratificante ter seu trabalho reconhecido. Descer pra pista e receber elogios do público, quando isso acontece me sinto parte da festa, é uma sensação de estar no caminho certo. Trabalhando para tornar a festa mais psicodélica e atraente para quem está ali curtindo.

De onde vem a sua inspiração?
Como dizia Thomas Edison: “Talento é 1% inspiração e 99% transpiração.

Inspiração pra mim está ligada ao trabalho e estudo. Grande parte do mix visual da festa foi testado no estúdio. A festa é somente apresentação, o trabalho pesado de compor o que encaixa com o formato do painel é antes.

Durante as projeções é preciso ter um sincronismo com a música, você conversa com os artistas antes das apresentações ou vai no feeling?Feeling! Como faço vjing somente para trance, o sincronismo pra mim hoje é algo bem simples, ouvindo a música eu sei o BPM aproximado, ai é só “sincar” com o programa, os loops eu sincronizo em casa pra encaixar na batida, na festa só preciso seguir o BPM.

Quais as dicas que você dá para quem quer ingressar nessa área de audiovisual?
Estudar, e muito…

Fazer VJ na festa é somente a ponta do iceberg. O trabalho pesado está na produção e preparação do conteúdo. Quem quer entrar no mercado tem que saber um pouco de tudo, desenho em vetor, manipulação de imagens, composição de vídeo e animação 3D, esse último na minha opinião é o mais complexo. Produzir conteúdo de qualidade e apresentar um visual “sincado” com a música é a obrigação básica do VJ. Dai para frente é igual ser DJ e produzir live, se você se dedicar e for bom vai se destacar no mercado, não tem erro.

Saiba mais: www.vjpicles.com / www.urutauvisual.com

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