Que saudades que estava de fotografar este evento, quem me conhece sabe o carinho e o respeito que tenho pela Psycodélicos. Estive fotografando a primeira edição, organizada ainda em um pequeno campinho de futebol e pude acompanhar todos os perrengues, ansiedades e também os sucessos que este núcleo teve.
Na última edição, a primeira após a fusão com a Pessegodelia, não pude fotografar pois ainda não tinha acostumado a Gaia a ficar com outras pessoas. Mesmo assim, os núcleos deram todo o suporte e ficamos hospedados ali dentro do Vale Encantado mesmo. Conseguimos sentir a energia que só quem esteve presente nestas duas edições sabe do que estes dois núcleos são capazes de fazer e de longe nos apaixonamos pelo set da Flá Almeida.
Já na edição deste ano, semanas antes do evento, um turbilhão de sentimentos tomou conta, uma ansiedade voltou a bater na porta e a sensação era de como estivesse, com 20 anos (tenho 23) e iria fotografar um evento pela primeira vez, do outro lado, por ter vivido alguns momentos pessoais na edição passada me bloqueava e não deixava vivenciar todo aquele frio na barriga.
A cena eletrônica de Curitiba que já mostrava uma exaustão antes mesmo da pandemia, sofreu ainda mais nos primeiros meses pós Covid. Percebemos isso com núcleos saindo do circuito e grandes núcleos tendo que se reinventar para tentar entender o que este novo público que chegou queria. Esta união entre a Psycodélicos e a Pessegodêlia foi de extrema importância para ambos, e, principalmente, para a cena local.
A responsabilidade, respeito e o carinho que ambos os núcleos têm com seus artistas, sejam eles DJs, decoração, performances ou fotógrafos e / ou videomakers, com todo o staff – limpeza, bar, segurança, portaria e todos os outros setores que envolve um evento e, principalmente com o seu público é algo incrível. Muitos nem imaginam o esforço que os núcleos fizeram para que os projetos Lunatica e Yabba Dabba estarem na festa. A poucas semanas do evento, uma festa de São Paulo decidiu cancelar os dois projetos e coube aos organizadores decidir entre cancelar também ou assumir sozinho a passagem de ambos (+ de R$ 15 mil), e o resultado desta decisão, felizmente, já sabemos.
Um outro ponto forte por trás desta união entre os núcleos é a psicodelia que existe em seus palcos, essa responsabilidade, muito bem exercida, é do Leonardo Podgurski, da equipe Irmãos Moira. Quem esteve presente a noite, pode vivenciar um palco transbordando cores e um casamento perfeito para o som noturno, já pela manhã era possível observar com mais detalhes a construção e perceber a tridimensionalidade e tamanho das peças.
O line up é um dos assuntos mais importantes de um evento, quando surge um evento as especulações de quem vai tocar já começa nas redes sociais e hoje, infelizmente, ter nomes “grandes” faz a diferença. É um ciclo vicioso que acredito que nunca será quebrado pois todos nós envolvidos temos um pouco de culpa disso, seja o público que não aceita uma festa não ter um famoso no line, os organizadores que não se sentem seguros em bancar um line up regional, as agências que continuam empurrando artistas através de combos e nós da mídia que continuamos achando isso normal.
Como dito nos parágrafos acima, a organização assumiu o risco e bancou sozinha a vinda dos gringos Yabba Dabba e Lunática para cá, ambos foram os headliners e fizeram valer os dólares investidos, mas por outro lado o que os nossos locais e brasucas fizeram foi algo surreal.
O Everton, Akainsense teve a responsabilidade de abrir a pista e, mesmo com ela ainda vazia, tocou como se estivesse em um grande festival com aquela pista lotada. Um set impecável e que merece cada vez mais olhares para suas futuras apresentações.
“Acredito que é o sonho de muitos estar lá em cima e graças ao pessoal da Psycodélicos e da Pessegodelia, pude realizar o meu desejo de comandar os decks e ter o meu nome gravado junto de grandes referências nacionais e internacionais. Dar o pontapé inicial foi realmente uma missão muito difícil e poder startar aquela gigante engrenagem foi único e mágico, me sinto mais preparado do que nunca para novos e maiores desafios!” (AkaInsense)
O som noturno foi muito bem representado pelos projetos Rastafire, Purist e Merkkurio, esse último teve a missão complicadíssima de tocar após o Yabba Dabba e conseguiu manter a pista pulsando firme e forte.
“Tem aquela tensão de tocar numa festa com grandes artistas nacionais e internacionais, mas na hora que você sente a energia da pista na primeira virada a coisa se desenrola, fica mais leve e a apresentação flui, de arrepiar, público muito receptivo ao ouvir minhas tracks, experiência única que estava com muitas saudades de sentir, aquele frio na barriga e o braço arrepiado, foi bom demais. A sequência da madrugada mostrou que o noturno tem seu espaço no coração dos paranaenses, só feedbacks positivos após a apresentação, sensação de dever cumprido” (Rastafire)
Já nas primeiras horas da manhã, Natan Bueno, responsável pelo projeto Psychowave, mostrou – e muitos podem até discordar – mas um Goa bem executado ainda se encaixa muito bem nos atuais eventos de psytrance. A cada track, a cada melodia que o produtor soltava o sol ia se mostrando e preparando a pista para os macacos dançarem.
O duo Disconect fez a sua estréia no Paraná com um set marcante e arrepiante.
“Nossa 1a vez no Paraná não podia ser melhor, a ansiedade foi grande e nossas expectativas foram superadas com toda certeza. Uma festa linda em todos os detalhes, do local, as pessoas, até a escolha de cada faixa que iria compor nosso set!
Uma recepção de toda equipe e do público que nos fez se sentir em casa e aqueceu o coração, mesmo no frio Curitibano. Gratidão e vida longa a essa festa que deu uma aula de respeito, organização, costela e PsyTrance! (Disconect)
E lógico que não podemos falar do line up, sem mencionar aquela que já é considerada por muitos a rainha, musa, residente e vários outros adjetivos Flá Almeida. A DJ paulista nos fez voltar no tempo novamente com um set retrô de euro psychedelic dance.
Mas convenhamos, entre vários artistas nacionais e internacionais, o grande destaque desta parceria entre Psicodélicos e Pessegodelia, é o open de costela. Nunca na história deste país uma festa proporcionou essa experiência para o público. Foram 500 kgs de carne preparada com todo carinho pela equipe e que foram devorados pelas pouco mais de 1200 pessoas em poucas horas. Faltou a alimentação para os vegetarianos, porém a organização explicou que houve um atraso do fornecedor e que devido a isso não conseguiram preparar algo a tempo para substituir.
Um outro detalhe nesta edição foi o chopp criado exclusivo pelo pessoal da cervejaria Saúde Guerreiro para o evento.
“As apresentações de dança, performance e maquiagens artísticas na cena trance são muito mais que entretenimento, são expressões profundas de pessoas que frequentam essas festas. É sobre essa cultura, é sobre oque significa fazer parte desse meio.”
“A arte é o conjunto de dialetos da nossa alma, ela comunica o incomunicável. Expressões artísticas como performance, dança, teatro, pintura, fortalecem a frequência de conexão com nossa essência.”
É com estas duas frases das artistas e performances @Akeladay e @ArtemisiaBaubo que ressaltamos, cada vez mais, a importância que as intervenções tem para os eventos. É importante para o público vivenciar outras experiências além da música, e, uma destas experiências se dá através das performances de artistas.
“A terra chama por uma revolução do pensamento e a cena do psytrance é um terreno fértil para arte. Mentes abertas e almas sedentas. Que a cada dia expanda o espaço para diferentes expressões, que as artes floresçam e ousem anunciar a transformação pela renovação da nossa mente.” (@Akeladay)
A edição deste ano contou com performances em grupo e solo, performances que fizeram o público se emocionar e também se questionar e quando notamos essa reação do público percebemos que estes artistas são tão importantes para a cena quanto os DJs que sobem ao palco. O coletivo Filhas de Baubo ficou responsável por recepcionar o público e conduzi-los até a pista de dança, mas devido a revista rigorosa (e correta) dos seguranças muitos não conseguiram presenciar este momento.
“Estrear com as Filhas de Baubo, nessa festa maravilhosa que já tinha muito ouvido falar, foi uma experiência única e inesquecível. Atuar artisticamente na cena psytrance que é a tribo onde me encontrei, ao lado de um coletivo de mulheres inspiradoras, até agora não caiu a ficha.
A festa estava impecável, público caloroso e querido, decoração lindíssima, equipe atenciosa, open costela no ponto e intervenções artísticas de arrepiar. Pura arte e cultura! Que venha a próxima” (@tayttoo)
Outra arte que muitos núcleos não tem o costume de investir é em relação a fotografia e video e parte desta culpa da desvalorização destes artistas se deve a outros artistas que não conseguem enxergar a importância que a sua arte tem e acabam se sujeitando a cachês baixos ou até mesmo cortesias. A fotografia sempre foi uma ferramenta poderosa para a cena eletrônica, é graças a ela que hoje, podemos olhar para trás e entender um pouco de como surgiu este movimento, a fotografia é capaz de contar um pouco da história do núcleo, da festa. Atualmente com a chegada de algumas redes sociais o video também assumiu essa importância de retratar um pouco da história e com a facilidade da internet trouxe também o poder do imediatismo, hoje é possível “estar na festa, sem estar”.
A Psicodélicos desde a primeira edição entendeu a importância que esses artistas tem para seus eventos e durante o seu crescimento e, agora com a união com a Pessegodelia, pode investir ainda mais nessa questão e contou com um coletivo muito forte na cena eletrônica com nomes como: Marcelo Kouto, Bruno Camargo, Fernando Franco, Rodrigo Gomes, Thayna Thuana, Fábio Tintori e Ricardo Kawe e também a página I Love Full On.
Abaixo alguns registros desta edição, você também pode acessar o instagram pessoal de cada fotógrafo (link no parágrafo acima), mas antes fica o convite para vivenciar mais uma experiência inesquecível, dia 22 de Julho, desta vez indoor, no centro de Curitiba.