A combinação perfeita entre arraiá e trance

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Foto Destaque: M. Kouto

O que falar da festa e do núcleo PSYcodélicos?

Estive presente desde a primeira edição e a cada festa percebo cada vez mais a evolução em estrutura, line e respeito. Sabemos da dificuldade que é organizar um evento em Curitiba nos dias de hoje, quando não é a natureza que conspira, é o público que não apoia por não ter um headliner gringo ou o calendário inchado de festas que estamos tendo ultimamente.

Psycodélicos: Muita essência e psicodelia

Mas a PSYcodelicos desde seu nascimento foi resistência quando decidiu ir na contra mão das vertentes populares e trazer novamente o bom e velho full on — aquele que para alguns “da sono” — para nossa região e continua sendo resistência em um período onde para o Estado rave é “crime”.

A Psycodelicos surgiu como uma festa de amigos e se tornou uma festa de família e para a família. Tudo é pensado no bem estar de todos, tenha você dois, dez, 35 ou mais anos, diria que é um festival compacto realizado em poucas horas e a edição deste ano comprovou ainda mais isso.

A família PSYcodélicos me acolheu desde a minha chegada em Curitiba. A PSYcodélicos 2, foi a minha primeira festa como público, a marca de uma nova etapa e foi ali mesmo que a ideia das intervenções surgiu e acabou se tornando real no primeiro Arráia que aconteceu em 2017.

Por este motivo tenho um apego gigante a essa família e ter me tornado parte dela me causa um orgulho imenso. Só quem já foi em um evento desse núcleo sabe o que é ver o amor pela cena se transformar em festa, podemos ver isso por todas as partes, da decoração ao line, da pista ao bar… O cuidado com o público é visível, até mesmo nos pequenos detalhes como os produtos de higiene — cotonetes, absorventes, algodão, álcool em gel, entre outros — que estavam à disposição no banheiro feminino, melhor até que banheiros femininos de muitos locais.

Além do respeito com o público, o respeito com os artistas também é sem igual, tratando todos os artistas da mesma forma, sem estabelecer hierarquias de “importância” e é isso que faz esse núcleo não ser apenas isso, mas sim uma família, que apoiam e ajudam uns aos outros por um objetivo em comum que é o amor pelo Trance! (Wakanda)

Adiada para o último dia 29, devido ao temporal que caiu na semana da véspera da primeira data e que causou um enorme estrago na Chácara doApavoro, o núcleo fez questão de manter o local e não mediu esforços para que tudo fluísse perfeitamente e CONSEGUIRAM!

Foi uma festa completamente linda de se ver e de se estar presente, com muitas crianças espalhadas pela chácara se divertindo e trocando experiências com outras crianças, além de muitas atividades destinadas especialmente para elas, como circo, uma aula de dança com a Wakanda e uma apresentação inesquecível de teatro de bonecos com a trupe Puppet Party que prendeu a atenção das crianças, dos pais e de todos que passavam por ali no momento.

Fotos: Adhara Fotografia

Uma festa com um line regional e com vários mimos remetendo a um arraia junino, como pipoca e pinhão grátis. O núcleo sempre foi bastante ativo nos projetos de redução de danos, em todas as suas edições anteriores e nesta esta questão foi sempre exposta através de coletivos e seus testes e também água free.

P.S Mimo não quer dizer obrigação!

Nesta questão de água grátis, percebemos o cuidado e o respeito que o núcleo tem com seu público, uma atitude praticamente impensável devido ao tamanho do evento, mas que, mesmo assim se propõe a manter desde a primeira edição. Sabemos que os bares nos eventos são peças importantes na arrecadação financeira e distribuir gratuitamente um item essencial como água pode gerar um colapso financeiro no final, tanto que tal ação é encontrada apenas em eventos maiores, onde a circulação do público é maior.

Fotos: M. Kouto
Foto: Adhara Fotografia

A PSYcodélicos sempre foi mais que uma festa de música, desde a primeira edição notamos um destaque para a cultura. Além de dar espaços para novos DJs mostrarem seus sets a festa sempre abre espaço para fotógrafos e performers apresentarem seus trabalhos. Foi assim com o projeto de dança tribal Wakanda, da Caroline Borcate, que fez a primeira apresentação do projeto na edição anterior do Arraiá.

A performance que realizei no final da tarde foi inspirada na Deusa Jaci, que é uma deusa indígena da lua na mitologia tupi. A estrutura da coreografia foi desenvolvida pensando no eclipse, onde os dois astros que são apaixonados (Sol e Lua), se encontram e podem finalmente se amar. Trazendo uma energia de paz e amor para a pista.

Após a apresentação realizei também um workshop de dança no Espaço Kids, onde pude trazer um pouquinho da dança para as crianças, que são o futuro da nossa cultura, para finalizarem a tarde que tiveram com muitas brincadeiras e novidades nesse espaço dedicado totalmente para elas, mas que em muitos momentos cativou até mesmo o olhar dos adultos, como no teatro de fantoches. (Wakanda)

Um dos estreantes no line Everton AKA INSENSE nos contou um pouco de como foi a sensação de fazer parte do line up e também a importância da PSYcodélicos:

“Seria como descrever um ato espontâneo, algo de como a vida deva correr, livre e feliz! Muitas pessoas enxergam com maus olhos, mas acredito que os valores são maiores que o preconceito. Além do cunho social em agir da maneira correta com o nosso planeta, a festa PSYcodélicos ilustra muito bem a essência do Trance, assim como poucas outras também conseguem fazer.

Outro estreante foi Brayam Gonçalves com seu projeto Kosmun, em fevereiro batemos um papo com ele e quando perguntamos o que ele esperava passar para a pista veio a resposta abaixo.

“Me conectar de alguma forma com o público, tocar uma track e transmitir emoções, ver alegria no rosto de cada pessoa, essa é uma sensação incrível.”

E depois desta apresentação na Psycodelicos conseguimos perceber exatamente esta conexão entre ele e a pista. No meio de tantos dinossauros da cena curitibana como Laimana, Housedown e Gabriel Melo, Kosmun mostrou personalidade em cima do palco e um set list que encaixou perfeitamente com a pista e o horário.

Fotos: M. Kouto

“Acredito que foi o melhor evento do ano até agora, todo mundo estava em uma sintonia muito boa” (KOSMUN)

Uma das principais críticas do público foi a intensa revista na entrada e até a apreensão de drogas na portaria. Confesso que até algum tempo atrás eu também era bem crítico em relação a estas revistas intensas ou “invasivas” como o pessoal chamou, porém um acontecimento recente me fez ver que é uma ação necessária para a segurança de TODOS os que estão presentes no evento. Não seremos hipócritas em negar o uso de drogas em eventos eletrônicos (ou sertanejo, rap, pagode…), porém temos que ter a consciência de que a exposição deste consumo pelo público vem se tornando cada vez mais prejudicial a cena e principalmente a esta cultura trance.

As fotos que ilustraram este post foram eternizadas pela fotógrafa Adhara Fotografia e M. Kouto, confira abaixo um pouco mais destas obras de arte.

Fotos: Rodrigo Gomes
Fotos: Adhara Fotografia
Fotos: M. Kouto


A combinação perfeita entre arraiá e trance was originally published in rcgomes on Medium, where people are continuing the conversation by highlighting and responding to this story.

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